Aprendizagem Baseada em Projetos, Ensino Híbrido ou Design Thinking, entre outras. Há alguma semelhança entre as propostas atuais e as já conhecidas dos séculos passados? Certamente.
As propostas e objetivos das novas metodologias de ensino/aprendizagem têm ligações ou semelhanças com as do passado? Em 1932, Anísio Teixeira, Lourenço Filho e Fernando de Azevedo foram líderes e signatários de um manifesto – o “Pioneiros da Educação”, criticado pela ingenuidade e aclamado pela inovação – que propunha mudanças na educação brasileira.
Essas propostas, no que tange ao viés pedagógico do documento, tinham vinculações com a Escola Nova – movimento do final do século 19 adentrando o século 20 – que, entre outros itens, se baseava no aluno como centro da aprendizagem; em trabalhos manuais; experimentações e em um aprendizado mais significativo.
Seguindo nessa linha, uma análise das correntes pedagógicas do final do século 19 e do século 20 revela muitas semelhanças em relação a algumas propostas pedagógicas inovadoras da atualidade.
Então, vejamos: para o bielorrusso Lev Vygotsky, por exemplo, a interação social – com a conhecida zona de desenvolvimento proximal – era um caminho a ser traçado na educação, ou seja, o aprender com o outro era fundamental, pois ninguém aprende sozinho – “ninguém é uma ilha”.
Já Paulo Freire se notabilizou pela aprendizagem significativa, trabalhando com o que o indivíduo já sabia e vivia em seu cotidiano, ou seja, do que experimentou em sua realidade, não sendo “uma folha em branco a ser preenchida”.
Ausubel, psicólogo estadunidense, também desenvolveu teoria baseada na aprendizagem significativa, partindo do que o aluno já sabia.
Torna-se interessante, então, nessa perspectiva, investigar e analisar o que está se propondo, hoje, para a melhoria da educação em relação às novas metodologias. Quais são as principais propostas em pauta?
Um aprendizado baseado no aluno; o “aprender” mais do que “o ensinar”; uma aprendizagem mais colaborativa; uma abordagem mais significativa que tenha mais contato e ligação com o mundo real; mais experimentações em projetos e outros mais.
Metodologias como Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP, ou, PBL em inglês), Ensino Híbrido ou Design Thinking, entre outras, têm como objetivo desenvolver nos alunos algumas das competências e habilidades citadas no parágrafo anterior e tidas como fundamentais para o século 21.
Percebe-se alguma semelhança entre as propostas atuais e as já conhecidas dos séculos passados? Certamente. Então, atualmente, o que se desenha é uma retomada de pressupostos já estudados e bem definidos no passado, com – em boa parte dos casos – as tecnologias da informação e comunicação atuando como mediadoras e facilitadoras do processo, além das adequações de alguns itens ao nosso momento.
Esses são pontos importantes a serem considerados: o momento e a adequação. Assim como à época do manifesto dos “Pioneiros da Educação” – embora nesse documento houvesse, além do viés pedagógico, o político e o ideológico –, necessitamos de um sistema de ensino e de metodologias que preparem o aluno para a sociedade contemporânea, da informação, do conhecimento e que vive em rede. Além disso, que prepare para um mercado de trabalho em constante transformação, que precisa de pessoas colaborativas, proativas, criativas, com capacidade de resolver problemas inéditos e sem um “manual de instrução”.
Ou seja, embora possa haver algum ineditismo na aplicação das novas metodologias de ensino, suas propostas e objetivos são semelhantes ao que já se discutiu e se propôs no passado.
Uma leitura atenta dos três trechos a seguir, extraídos do manifesto dos pioneiros da educação, dará uma boa noção dessa semelhança.
“O que distingue da escola tradicional a escola nova, não é, de fato, a predominância dos trabalhos de base manual e corporal, mas a presença, em todas as suas atividades, do fator psicobiológico do interesse, que é a primeira condição de uma atividade espontânea e o estímulo constante ao educando (criança, adolescente ou jovem) a buscar todos os recursos ao seu alcance, graças à força de atração das necessidades profundamente sentidas”.
“A escola deve utilizar todos os recursos formidáveis, como a imprensa, o disco, o cinema e o rádio.”
“Mas, o exame, num longo olhar para o passado, da evolução da educação através das diferentes civilizações, nos ensina que o “conteúdo real desse ideal” variou sempre de acordo com a estrutura e as tendências sociais da época, extraindo a sua vitalidade, como a sua força inspiradora, da própria natureza da realidade social.”
Nesses trechos, pode-se perceber, ao menos, três itens comuns ao que se propõe hoje:
. Interesse do aluno nas tarefas que vai realizar
. Utilização dos recursos tecnológicos disponíveis
. A ligação da educação com a sociedade do seu tempo
E como estamos aplicando tudo isso em nosso país? Algumas escolas públicas e particulares estão inovando nessa linha. Mas essas iniciativas ainda são muito incipientes, pontuais e, em alguns casos, inconstantes.
Estamos em um momento de transição e há um claro descompasso entre a escola, o mundo corporativo e a sociedade. O que tem travado muito essa evolução, entre outros fatores, é o nosso paradigma baseado em avaliações, principalmente para a entrada no ensino superior, o que tem engessado e impedido novas iniciativas mais conectadas com o nosso tempo por parte das escolas, que têm optado por uma metodologia mais pragmática e tradicional.
O artigo original escrito pelo Prof. Carlos Sanches encontra-se nesse link do site A Rede Educa.
Equipe TecnologiaEducaBrasil
Todos os autores citados propunham que se centrasse no aluno o processo de aprendizagem. Porquê, então, falar de “metodologias de ensino”? Continuaremos a recomendar (no discurso) o centro no sujeito de aprendizagem e a praticar ensinagem centrada no… professor? Não será esta uma manifestação de pedagógica esquizofrenia?
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Olá prof. José Pacheco. É sempre uma honra contar com seus comentários. Obrigado por sua contribuição a este debate.
De fato, creio que Metodologias de Aprendizagem – e o que isso significa, ou seja, não sendo, apenas, uma mudança de palavras -, talvez, fosse um termo mais adequado de acordo com o que estamos discutindo nesse artigo.
Um abraço
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Obrigado. Dá-lhe, então, a designação devida. E apaga do discurso a expressão “sala de aula”. A Escola Nova o exige… há mais e um século! Abraço!
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Olá prof. José Pacheco.
Embora eu concorde com o termo Metodologias de Aprendizagem, muitos, ainda, utilizam o termo Metodologias de Ensino, concordemos ou não. Então, creio que, para que todos se situem/posicionem na discussão, optei por manter o clássico “ensino-aprendizagem”.
Quanto ao termo “sala de aula”, ele não foi escrito nesse artigo.
Novamente, obrigado pela sua, sempre importante, contribuição.
Um abraço
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